“Não aceito que um bicho morra para que eu possa me alimentar”, diz Seu Zé, de Paranavaí


O aposentado José Francisco de Oliveira, o Seu Zé, sobrevive com um salário-mínimo por mês e, mesmo com sérias limitações, se preocupa em cuidar dos animais que circulam pela sua pequena residência. Gasta cerca de sete pacotes de quirela por mês alimentando centenas de pássaros. “Tem dia que chego a contar 200 rolinhas de uma vez. Fica tudo preto. Eu não mato um passarinho de jeito nenhum, nem que eu morra de fome. Não aceito que um bicho morra para que eu possa me alimentar. Teria vergonha de matar um animal pra comer”, conta.

Ele começou a valorizar a liberdade dos animais em 1925, aos oito anos, quando morava em uma roça nas imediações do rio Capivari, no interior de São Paulo. “Eu estava andando por aquelas bandas carregando quatro gaiolas cheias de passarinhos, daí, do nada, os bichinhos começaram a fazer ‘tiu, tiu, tiu’, ‘prim, prim, prim’, ‘tiziu, tiziu, tiziu’. Parei, fiquei olhando e escutando. Carreguei eles mais um pouco e, quando cheguei em casa, abri cada uma das gaiolas e soltei todos. Nunca mais prendi nenhum passarinho. Se eu tivesse dinheiro, comprava tudo pra soltar”, garante.

Seu Zé tem um estilo de vida simples, sem apego material, passando horas do dia em introspecção, envolvido em uma forma bastante pessoal de espiritualidade. Admite que diariamente divaga até um passado que lhe conforta a existência. “Sinto muita falta da minha mulher e da minha filha que faleceram, mas não tenho arrependimentos nem medo de morrer”, confidencia.

José Francisco de Oliveira nasceu em 7 de agosto de 1917. Ele vive em Paranavaí, no noroeste do Paraná, desde a década de 1940.


Foto: David Arioch

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