Uma história bonitinha, mas há ressalvas



Por Paulo Furstenau*


Tem sido notícia em diversos sites, como G1 e Uol, a história de um gato que há quase 10 anos frequenta (literalmente) a Fatec Rubens Lara, faculdade de Santos, no litoral paulista. 

Não, não se trata de um gato comunitário, daqueles que vivem nas ruas e são cuidados por diversas pessoas, como vizinhos ou membros de certo grupo de indivíduos, como alunos e funcionários de uma faculdade. Branco, como é chamado, tem endereço e tutora. 

E, conforme relata o Uol, o começo de sua história deve servir de exemplo para muitos humanos. Abandonado nas ruas ainda filhote, ele foi resgatado. Sua tutora conta que teve um câncer de intestino e o bichano foi seu grande companheiro de quimioterapia, ficando sempre a seu lado. 

Ela diz ainda que ia buscá-lo todos os dias na Fatec, quando ele começou a ir até lá, pois "sabia dos riscos que ele corria por estar na rua". E aqui fazemos uma ressalva importante: Branco nunca deveria ter acesso à rua, principalmente se sua tutora é ciente do perigo que isso representa para um gato. 

Segundo ela, foi a própria veterinária que lhe recomendou que "não tirasse essa liberdade dele, porque ele gosta muito de lá, foi o lugar que ele escolheu", e que o bichano passa o dia todo na faculdade e volta à noite para dormir em casa. 

Outra ressalva: nenhum veterinário deveria fazer tal recomendação, de deixar um gato com acesso para a rua, onde pode ser atropelado, sofrer as mais diversas violências por humanos, ser atacado por um cachorro, ingerir veneno, cair de uma altura grande - apenas para citar alguns riscos reais e que são realidade corriqueira entre gatos que andam nas ruas em todo o mundo. 

A tutora contou também ao Uol que Branco tem coleira de identificação com seu número de telefone, o que mostra que ela realmente acredita que zela pela segurança do gato, mas na verdade está equivocada e mal assessorada pela veterinária. 

Coleira com identificação é imprescindível para cães - assim como os gatos, eles não devem ter acesso à rua, exceto, claro, para passeios acompanhados por seus tutores e com a guia no pescoço o tempo todo. E a identificação servirá para o cachorro ser encontrado em caso de fuga, e não porque o tutor o deixou solto por aí.

Já os gatos nem devem usar coleira alguma, pois podem se enforcar. Gatos devem ficar em casa, seguros, com janelas teladas. A tutora de Branco relata ainda que, nos fins de semana e durante as férias, ele fica "muito entediado, rabugento e bravo", pois sente falta do movimento das pessoas na faculdade. 

Não sabemos como é o lar de Branco, mas tutores de gatos devem enriquecer a casa para que eles tenham bastante distração, como arranhadores, caixas, prateleiras, brinquedos como ratinhos e varas de pescar, entre outras, justamente para que não se entediem.

Parabenizamos a tutora pela atitude de resgatar e adotar um animal abandonado, assim como ficamos felizes e também gratos pelo bicho ser tão bem tratado por diversas pessoas ao longo de quase 10 anos, a ponto de se sentir em casa naquele lugar. Mas não podemos deixar de registrar aqui nossa preocupação com as idas e vindas de um gato ou cachorro pelas ruas, expostos a tantos perigos. Felizmente, Branco teve sorte todo esse tempo, mas o ato de deixar um gato ou cachorro livre pelas ruas não deve ser exemplo a ser seguido por nenhum tutor. 


*Paulo Furstenau é jornalista voluntário da Associação Natureza em Forma

Foto: Reprodução

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